Muitas pessoas percebem, ao tampar um olho, que a visão parece diferente de um lado para o outro, e é comum notar alguma distinção entre os dois olhos. Em muitos casos, essa assimetria é discreta e não interfere na qualidade de vida.
No entanto, quando um olho enxerga muito melhor do que o outro, isso pode ser um sinal de alerta para alterações visuais ou doenças oftalmológicas que precisam de avaliação médica.
Neste artigo, você vai descobrir o que significa enxergar melhor com um olho do que com outro, o que pode causar essas diferenças visuais, como identificar o problema e quais são as possíveis formas de tratamento.
A visão deve ser igual nos dois olhos?
Visão binocular é o nome dado à capacidade dos olhos de trabalharem juntos para formar uma única imagem tridimensional, função que é essencial para a percepção de profundidade, noção de espaço e coordenação motora.
Dessa forma, para que tenhamos uma visão clara e nítida, idealmente os dois olhos devem oferecer um desempenho visual equilibrado e colaborativo. Assim, o cérebro consegue integrar as imagens recebidas de forma eficiente, sem causar desconforto, dor de cabeça, visão dupla ou esforço visual.
No entanto, quando há uma grande diferença de nitidez ou de foco entre os dois olhos, o cérebro pode ter dificuldade para fazer essa integração, favorecendo a visão de um olho em detrimento do outro.
Com o tempo, isso pode levar ao enfraquecimento da visão no olho menos utilizado, o que compromete não apenas a acuidade visual, mas também o conforto e a percepção ocular como um todo.
Causas comuns de diferença de visão entre os olhos
A diferença de qualidade visual entre um olho e outro pode ter diversas causas. Algumas delas são congênitas (presentes desde o nascimento), enquanto outras se desenvolvem ao longo da vida.
Veja abaixo algumas das principais causas que podem gerar essa assimetria:
- Anisometropia: Condição em que há grande diferença no grau de refração (miopia, hipermetropia ou astigmatismo) entre os dois olhos. Quando isso acontece, um olho pode enxergar bem enquanto o outro tem visão turva ou borrada.
- Ambliopia (olho preguiçoso): Ocorre quando um dos olhos não desenvolve a visão de forma adequada durante a infância, geralmente por diferença de grau, estrabismo ou obstrução ocular. Mesmo com óculos, a visão pode permanecer baixa no olho afetado.
- Ceratocone: Doença progressiva em que a córnea (parte frontal do olho) se torna mais fina e adquire formato irregular, o que provoca visão embaçada e distorcida. Em geral, a doença afeta mais um olho do que o outro.
- Catarata unilateral: Formação de opacidade no cristalino de apenas um dos olhos, o que dificulta a passagem de luz e compromete a nitidez da visão.
- Traumas oculares: Lesões nos olhos, como pancadas ou acidentes, podem comprometer estruturas importantes e causar perda visual assimétrica.
- Doenças da retina ou do nervo óptico: Algumas condições, como neurite óptica, descolamento de retina ou degenerações maculares, podem afetar um olho isoladamente.
- Infecções ou inflamações oculares: Episódios de uveítes ou infecções localizadas podem comprometer temporariamente a visão de apenas um dos olhos.
Veja também: O que pode agravar o glaucoma?
Quando a diferença na visão é normal e quando é preocupante
Pequenas diferenças de acuidade visual entre os olhos são consideradas normais e não causam sintomas relevantes, já que muitas vezes a diferença é tão sutil que passa despercebida no dia a dia.
No entanto, quando a disparidade é perceptível e começa a interferir na leitura, na percepção de profundidade, na concentração ou causa dores de cabeça, é necessário buscar avaliação médica.
Situações em que um olho “trabalha” muito mais do que o outro ou deixa de colaborar visualmente podem levar a quadros como ambliopia, estrabismo ou perda progressiva da visão, especialmente em crianças e adolescentes em fase de desenvolvimento visual.
Já em adultos, mudanças súbitas na visão de um dos olhos também merecem atenção, pois podem sinalizar doenças oftalmológicas ou neurológicas.
Exames que detectam assimetrias na visão
Para identificar a origem da diferença de visão entre os olhos, o oftalmologista pode solicitar uma série de exames específicos. Entre os mais utilizados estão:
Exame de refração
Este é o exame que mede o grau de refração em cada olho (miopia, hipermetropia e astigmatismo) e possibilita identificar se há diferença que justifique a assimetria visual. Com ele, o oftalmologista pode indicar a correção óptica adequada.
Topografia corneal
Esse exame mapeia a curvatura da córnea e detecta irregularidades em sua superfície, sendo fundamental para identificar o ceratocone, especialmente em estágios iniciais, que pode afetar mais um olho do que o outro e causar grande assimetria visual.
Tomografia de coerência óptica
Exame de imagem de alta resolução que permite visualizar as camadas da retina e do nervo óptico, sendo essencial para diagnosticar doenças como degeneração macular, glaucoma ou neurite óptica, que podem comprometer a visão de forma unilateral e progressiva.
Mapeamento de retina
Avalia detalhadamente o fundo de olho, incluindo a mácula e a retina periférica, a fim de detectar lesões, descolamentos ou sinais de doenças vasculares que afetam um dos olhos.
Tratamentos para corrigir ou controlar a diferença de visão
A abordagem para corrigir ou controlar a diferença de visão entre os olhos depende diretamente da causa diagnosticada.
Os principais tratamentos incluem:
- Óculos com graus diferentes para cada olho, já que a prescrição de lentes adequadas pode equalizar a visão binocular, especialmente em casos de anisometropia leve a moderada.
- Lentes de contato especiais, como as rígidas ou esclerais, podem proporcionar melhor qualidade visual, pois são capazes de se moldar à córnea irregular, principalmente quando a diferença de grau é alta ou há ceratocone.
- No caso da ambliopia, o tratamento envolve o uso de tampão no olho bom (para estimular o olho preguiçoso), óculos corretivos e, em alguns casos, terapia visual. Em geral, a terapia é mais eficaz quando iniciada na infância.
- Cirurgias refrativas a laser, em um ou ambos os olhos, costumam ser indicadas para quem tem diferença significativa de grau e não se adapta bem a óculos ou lentes.
- Em casos avançados de ceratocone, quando as lentes não resolvem, o transplante de córnea pode restaurar a curvatura corneana e melhorar a visão.
- Quando a diferença de visão entre os olhos é causada por catarata unilateral, a cirurgia (que remove o cristalino opaco e implanta uma lente intraocular) é capaz de igualar a qualidade visual.
- No caso de doenças inflamatórias ou infecciosas, o tratamento clínico e medicamentos, com uso de colírios, antibióticos, antivirais ou corticoides, pode ser necessário.
- Já em casos como degeneração macular ou retinopatia, podem ser indicadas aplicações intravítreas, fotocoagulação a laser ou cirurgia, para tratar doenças da retina.
A importância da avaliação precoce para evitar complicações
Detectar assimetrias na visão de maneira precoce é fundamental, especialmente na infância, quando o sistema visual ainda está em desenvolvimento.
Condições como ambliopia, anisometropia ou ceratocone, quando identificadas nas fases iniciais, têm maior chance de serem tratadas com sucesso e de evitar prejuízos duradouros na visão.
Em adultos, a percepção de uma queda visual repentina em um dos olhos deve ser avaliada com urgência, pois pode indicar doenças oculares sérias.
Se você percebe que enxerga melhor com um olho do que com o outro, não ignore esse sinal. Marque uma consulta com um oftalmologista para uma avaliação completa.
A visão é um dos sentidos mais importantes para a qualidade de vida, e cuidar bem dela é um passo essencial para enxergar o mundo com clareza e equilíbrio.
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